Porto seguro
Eu já perdi as contas de quantas vezes o Gabriel teria caído se eu não o tivesse segurado. Isso só considerando as vezes em que ele estava no meu colo e se jogou sem medo para tentar pegar algo ou para demonstrar a vontade de ir para o chão. Dia desses, quando isso ocorreu de novo, fiquei pensando em como nós somos a segurança dos nossos filhos.
Lógico que ele poderia fazer isso um dia, se machucar e aprender da pior maneira que não é para agir assim. Mas eu acho que, mesmo inconscientemente, ele faz isso porque sabe que eu irei protegê-lo.
Senti um peso enorme ao pensar nisso: quanta responsabilidade nós temos como pais. Muito além de proteger, estamos criando outro ser humano, formando uma pessoa que aprenderá muito mais com nossos exemplos do que com nossas palavras.
É por isso que ter filho nos faz melhor. Pelo menos eu passei a querer ser ainda melhor para e por meu filho.
E espero que o Gabriel também tenha essa sensação mesmo depois de crescido, de saber que pode ir explorar o mundo, mas que sempre terá um lugar para voltar e se sentir bem, protegido e amado.
Se antes eu buzinava no trânsito pra um Zé Mané que me fechou, agora eu respiro e tento relevar para não me alterar na frente do meu filho. Se antes eu me aborrecia com alguma situação no trabalho, agora eu busco abstrair e pensar que minha vida é muito mais importante fora do trabalho e que por isso não devo levar preocupações para casa. Se antes eu comia sempre em frente à TV e devorava qualquer porcaria só pela preguiça de preparar algo decente, agora eu evito fazer isso na frente do meu filho e tento mudar meus hábitos alimentares. Se antes eu reclamava por besteira, agora lembro de ser grata pelo que já tenho e transmitir mais positividade para quem está ao meu redor e, principalmente, para meu pequeno.
Não é uma tarefa fácil. São tantas “virtudes” a ensinar em meio a “pecados” que cometemos. Dá até um medo em pensar em tudo que enfrentaremos até que ele se torne um homem bom, independente e capaz de tomar suas próprias decisões.
Aliás, o quão difícil é criar os filhos para o mundo (agora entendo mais os meus pais). Temos que fazer a nossa parte e confiar que, com a educação que dermos, eles tomarão as melhores decisões – mesmo que isso signifique errar para aprender algumas vezes, como aconteceu com a gente.
Compartilhei nesta semana na nossa página do Facebook um texto sobre ensinar aos filhos que a frustração faz parte da vida. E temos que ir ainda mais além e mostrar todo o lado ruim que, infelizmente, também faz parte: decepções, tristeza, violência, inveja, arrogância… A lista é enorme para meu desespero.
Queria que ele crescesse num mundo só de coisas boas e pessoas de bom coração (síndrome de Pollyana). Seria uma ilusão e uma mentira, eu sei. Mas posso dizer que farei o meu melhor para que ele seja uma pessoa de bom coração e ajude a promover coisas boas nesse mundo.
Até lá, eu aproveito muito esse momento em que o mundo do meu filho somos nós e fico feliz de ver como ele confia na gente. Queria que o mundo fosse seguro assim pra sempre para ele. Mas aí eu lembro que ainda hoje eu me conforto no colo da minha mãe e do meu pai e me sinto segura com eles. E espero que o Gabriel também tenha essa sensação mesmo depois de crescido: saber que pode ir explorar o mundo, mas que sempre terá um lugar para voltar e se sentir bem, protegido e amado. <3
Ai, que texto lindo! Vontade de te abraçar agora! Eu também peço colo para os meus pais até hoje. E não pretendo descontinuar esse hábito. Não podemos proteger nossos filhos de todo o mal, mas podemos (e devemos) deixar nosso colo disponível para sempre! 😉
Abraço virtual aceito! rsrs Colo é tudo de bom. Dar e receber também! 😉