Consulta Materna: Quando levar o filho ao dentista?
Nossa intenção com o blog foi sempre compartilhar nossas experiências da maternidade, dar espaço para outras mães fazerem o mesmo com o Visita de Mãe e levar informação a outras mães com textos de profissionais da área. E hoje é justamente isso que trazemos pela primeira vez: estamos estreando a nossa coluna Consulta Materna com orientações da Dra. Carla (odontopediatra do Gabriel) sobre a saúde bucal do bebê.
A Carla se especializou no atendimento de bebês e crianças e agora este universo tem um gosto mais que especial, já que em breve ela será a mãe do Lucas que mora há cinco meses em sua barriga e só cresce. Agradecemos a Carla pela disponibilidade em escrever este texto para nosso blog e esperamos que seja bem útil pra vocês. 😉
Quando levar o filho ao dentista? | Por Carla Miranda Santana*
Mães costumam ter muitas dúvidas sobre como manter a saúde bucal do seu bebê, então vou abordar algumas questões mais recorrentes. Mas para começar vou falar sobre a minha especialidade, a Odontopediatria, que é a área da Odontologia que cuida da saúde bucal de bebês, crianças e adolescentes. O seu objetivo é a prevenção das doenças bucais, com ênfase na preservação tanto dos dentes de leite como dos dentes permanentes que começam a surgir ainda na infância.
O ideal é que a primeira consulta do bebê no Odontopediatra seja feita antes do nascimento dos primeiros dentes, ou mesmo durante a gestação, aproveitando o momento de motivação dos pais para que o profissional desde então possa orientar e acompanhar o desenvolvimento bucal, prevenindo possíveis problemas. O Odontopediatra acompanha o desenvolvimento das dentições e fornece informações importantes, adequadas para cada faixa etária, sobre a higiene bucal, alimentação, hábitos, uso do flúor, entre outros temas importantes. A visita no dentista é importante também para que a criança se habitue ao ambiente e com o profissional o que facilitará sua relação futura. O tratamento odontológico, principalmente de bebês e crianças, necessita de um cuidado especial, utilizando técnicas de psicologia, para que a visita ao dentista se assemelhe a uma brincadeira, que o ambiente torne-se atrativo, ajudando a criança a se sentir confiante e descontraída.
Embora os dentes de leite sejam temporários, são extremamente importantes para o correto desenvolvimento da dentição permanente, pois servem como guia para a erupção dos dentes definitivos. Além disso, proporcionam uma adequada mastigação e deglutição, e consequentemente uma melhor digestão dos alimentos pelas crianças. Se houver algum problema na dentição de leite, com relação à cárie dental, por exemplo, poderá ocorrer infecção, dor, inchaço e até mesmo risco de comprometer o dente permanente. Sendo assim, é bem importante que a escovação comece o mais cedo possível, assim que nascer o primeiro dente, para que a criança se acostume com bons hábitos de higiene. Os pais devem estar cientes da importância da escovação e também se sentir encorajados a higienizar os dentes dos seus filhos pelo menos duas vezes ao dia, e principalmente à noite antes de dormir. A escovação requer o uso da dedeira de silicone ou da escova dental com pasta de dente com flúor (aqui vale salientar que a pasta deve ter uma quantidade de flúor acima de 1.000 ppmF e que se deve ter muito cuidado com a quantidade de pasta colocada na escova). E quando o bebê apresentar dentes muito próximos, o uso do fio dental é muito importante para garantir a limpeza entre os dentes.
A principal doença que afeta a cavidade bucal de crianças ainda é a cárie dental, que é caracterizada pela destruição da estrutura do dente. Ocorre pela presença da placa dental, que é formada por bactérias, saliva e restos de alimentos. As bactérias se alimentam dos restos de alimentos, principalmente os açucarados, produzindo ácidos que enfraquecem os dentes. A cárie dental inicialmente aparece como uma mancha branca, com o tempo se transforma em uma cavidade, e se não for tratada, pode em algum momento começar a doer, podendo até levar a perda do dente. Para evitar que a cárie dental ocorra deve-se reduzir a frequência do consumo de alimentos doces e realizar higiene bucal após as principais refeições. Medidas adicionais podem ser tomadas pelo dentista para tentar prevenir ou paralisar o processo da doença.
A cárie precoce na infância, conhecida por muitas pessoas como cárie de mamadeira, está relacionada principalmente com o hábito de a criança adormecer tomando líquidos açucarados ou fazer uso de chupetas adoçadas, sem ter sido realizada a higiene bucal. Isto ocorre, pois durante o sono a salivação diminui, o que reduz a proteção natural que a saliva exerce sobre os dentes, favorecendo o aparecimento de lesões cariosas muito severas. No caso do leite materno, o potencial de causar cárie dental é mais baixo, principalmente se a amamentação for exclusiva. O que acontece normalmente é a introdução de produtos contendo sacarose junto ao aleitamento materno, assim a amamentação noturna com leite materno teria um potencial aumentado de causar cárie por conta da alimentação açucarada do bebê em outros períodos do dia.
Na infância, acidentes envolvendo batidas na região da boca são muito comuns. É preciso que os pais fiquem atentos aos traumatismos bucais, pois eles podem ter diversos níveis de gravidade. Devem ser observados os sangramentos, as escoriações, os deslocamentos dentários e as fraturas. O ideal é que se procure um Odontopediatra o mais rápido possível, para o correto diagnóstico e tratamento necessário.
Desde a infância, é importante que haja preocupação com a formação da futura arcada para o estabelecimento da dentição permanente. Vários hábitos bucais podem causar problemas na posição dos dentes ou no crescimento das arcadas dentais, afetando a estética, função mastigatória e a fala. Sendo assim, o quanto antes estes hábitos forem observados e corrigidos, melhor será o desenvolvimento facial da criança, então fique atento para as seguintes situações: chupar dedo ou chupeta; roer unha; respirar pela boca; falar ou engolir com a língua entre os dentes.
Assim, se esses hábitos existirem, devem ser descontinuados, tendo em vista que podem prejudicar o estabelecimento de uma mordida adequada se forem mantidos após os 36 meses de idade. O Odontopediatra pode auxiliar nesta etapa de remoção do hábito, avaliando e orientando os pais para uma conduta correta.
Diante do que foi exposto observa-se que muitas são as informações e os cuidados para que a criança tenha um sorriso saudável, sendo que a prevenção será sempre o que de melhor podemos proporcionar, por isso, o cuidado diário desde cedo e a busca por informações de confiança farão toda a diferença para a obtenção desta meta.
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* Carla Miranda Santana é dentista formada na UFSC, com mestrado em Materiais Odontológicos e Doutorado em Odontopediatria também pela UFSC. É professora do Curso de Graduação em Odontologia da Unisul e do Curso de Especialização em Odontopediatria do CEOI. É Odontopediatra da Clínica Vitaclass. Contato: 48 3024 2929 / carla@vitaclass.com.br