A ordenha nossa de cada dia
Quando eu ouvi pela primeira vez o termo ordenhar, também estranhei. Depois que o Gabriel nasceu, a expressão virou algo super comum, assim como o ato em si de tirar leite.
Uns quatro dias após o nascimento do Gabriel, a doula que contratamos me mostrou como fazer a ordenha manual, pois meu leite tinha acabado de descer, meus seios estavam enormes e já havia algum empedramento. Para evitar mastite, eu tinha que ordenhar um pouco após cada mamada.
Nos primeiros meses, minha comadre me emprestou uma bomba manual e eu tirava um pouco de leite antes das mamadas de madrugada também. Como neste período meu filho espaçava mais o horário para mamar, meu peito ficava mais cheio e, se eu não tirasse um pouco de leite, o Gabriel se engasgava com a primeira sugada e dava uma choradinha (um choro super bonitinho, devo confessar :O).
No início, portanto, eu ordenhava um pouco – manualmente ou com a bomba manual – para evitar empedramentos e para não incomodar o Gabriel com a força do leite. O que eu tirava de leite, ia fora. Nos primeiros três meses, eu tive muito leite, a ponto de aquelas conchas de silicone usadas no pós-parto vazarem entre uma mamada e outra. Talvez, por isso, achei que, quando eu realmente precisasse tirar leite para estocar, seria mais fácil.
Como contei no post da semana passada, o Gabriel começou a ir à escola com cinco meses para adaptação e, como eu queria manter amamentação exclusiva, tive que começar a tirar leite antes para estocar para esse período em que ele ainda só tomaria meu leite e não teria a introdução alimentar. Quando me consultei com uma enfermeira especializada em amamentação, perto do Gabriel completar três meses, ela me orientou a começar a usar a bomba para ordenhar para já ir acostumando. Foi aí que percebi que não ia ser tão simples como eu imaginava.
Eu tinha comprado uma bomba elétrica que minha mãe me trouxe dos Estados Unidos (muito mais barato do que aqui pra variar). Acabei optando por uma da Avent, porque eu já tinha um kit de mamadeiras dessa marca (que só usei por 15 dias como comentei também no último post, mas que não fez a menor diferença ter a bomba da mesma marca), mas já ouvi dizer que a da Medela é melhor. Não posso avaliar, pois só usei a primeira.
Gabriel começaria a escola em fevereiro, então no final de dezembro eu comecei a usar a bomba elétrica. E eu, que tinha tanto leite que vazava muito no início, fiquei uma hora com a bomba para não sair nem 40ml. Imaginem a minha frustração… Eu tinha conversado com a pediatra que disse que seria bom eu conseguir enviar pelo menos uns 100 ml para a escola, já que ele ficaria a manhã toda. E eu não estava nem perto disso.
Eu fiz o que eu pude para conseguir produzir mais leite, ordenhar e estocar. Não foi fácil. Muitas vezes, eu estava exausta, queria dormir, mas sabia que precisava ordenhar para garantir o estoque de leite materno para meu filho.
Mesmo assim, comecei a usar a bomba todo dia, lutando por cada gota a mais que eu conseguia. No começo, eu usei em qualquer horário, mais para o meu corpo se acostumar mesmo e passar a produzir mais. Como faltavam semanas para o início das aulas, eu também não estocava o leite ordenhado (que ainda era muito pouco) e jogava fora.
Para estimular ainda mais minha produção de leite, comecei a tomar o Chá da Mamãe da Weleda e a tintura de algodoeiro (que se encontra em farmácias de manipulação). Eu tomava três copos do chá por dia nas refeições junto com 30 gotas da tintura misturadas no chá. Eu não gostava, mas virou rotina e realmente minha produção aumentou.
Eu tinha preocupação em não tirar leite antes de amamentar o Gabriel e esperava ele mamar para ir ordenhar. Mas o Gabriel praticamente me esvaziava e era muito difícil de tirar depois. Eu tentava reservar um peito para ficar mais cheio e dava um só para o Gabriel e aí o outro eu ordenhava. Às vezes, funcionava; mas, às vezes, Gabriel mamava num peito e depois ainda mamava no outro. Percebi que, de madrugada ou logo de manhã cedo, eu conseguia tirar mais leite, pois meu peito estava mais cheio – já que nesse período o tempo entre uma mamada e outra era maior. Mas, muitas vezes, eu estava exausta e não tinha disposição para levantar ainda mais cedo ou durante a noite (Gabriel sempre acordou à noite, como já falei aqui).
Lá pela metade de janeiro, comecei a estocar o leite para enviar para a escola. Para isso, usei uns potes que eu tinha da Avent. Depois, pela quantidade de estoque, ficou mais prático usar uns sacos plásticos feitos especialmente pra isso. Fiz uma rotina de que assim que eu dava a mamada da noite e colocava o Gabriel para dormir, eu sentava no sofá, ligava a TV e ia tirar leite. Assim ficava por cerca de uma hora. Eu evitava passar muito disso para não machucar o bico do seio pela sucção da bomba e também porque não achava legal o leite ordenhado ficar tanto tempo fora de refrigeração. Nos dias bons, eu conseguia tirar até 120 ml nessa hora.
Quando Gabriel começou na escola, ficou mais fácil, porque como ele passava a manhã lá e não mamava, meu peito ficava cheio e eu tinha mais um período para ordenhar com tranquilidade já que eu ainda estava de licença maternidade. Então eu passei a tirar leite de manhã (e aí conseguia bastante, até uns 180 ml) e mantive as ordenhas de noite (que dava mais uns 120 ml). Depois que voltei ao trabalho, eu chegava da escola com ele e a primeira coisa que eu fazia era ordenhar (porque ele já tinha almoçado na creche e meu peito estava cheio, uma vez que eu tinha passado a manhã sem amamentar). Nem sempre eu conseguia por causa do Gabriel que exigia minha atenção e cuidado.
Eu separava os potes/sacos em porções de uns 120 ml e mandava dois para a escola. Achei que eu só precisaria fazer isso por uns dois meses: em fevereiro, enquanto ele ainda estaria só tomando leite materno, e em março, quando ele completaria seis meses e eu imaginava que, neste primeiro mês de introdução alimentar, ele ainda teria que tomar leite de manhã até se acostumar com as comidas. Mas o processo foi mais prolongado, pois a introdução alimentar por aqui não foi tão simples (outro dia eu conto sobre isso). Como Gabriel não aceitou bem as frutas e depois o almoço com papinhas salgadas*, precisei mandar leite por mais uns dois meses.
Só quando meu filho completou oito meses é que ele passou a ficar bem na escola sem meu leite – já que lanchava uma fruta e almoçava uma papinha e isso o sustentava até eu chegar por volta das 13h. Depois de umas duas semanas enviando leite e ele sem tomar (mandava de reserva, caso ele chorasse de fome por não aceitar toda a comida ou não se saciar), deixei de mandar e foi um alívio não ter mais que ordenhar todo santo dia.
De vez em nunca agora eu ordenho para estocar, como um dia em que o Gabriel ficou na casa da minha sogra de noite enquanto fomos a um casamento. Deixei o meu leite reservado para minha sogra dar na madrugada quando ele acordasse.
Conheço casos de outras mães em que a ordenha foi super fácil, do tipo que, em 10 minutos, elas tiravam o que eu levava uma hora para conseguir. E teve mãe que aparentemente tinha menos leite do que eu e conseguia tirar uma quantidade maior no mesmo tempo (como foi o caso da Magda, que comentou sobre isso em um dos seus textos pra nossa coluna #VisitadeMãe). Então acho que depende de cada organismo mesmo e de cada mãe.
Eu fiz o que eu pude para conseguir produzir mais leite, ordenhar e estocar. Não foi fácil. Muitas vezes, eu estava exausta, queria dormir, mas sabia que precisava ordenhar para garantir o estoque de leite materno para meu filho. Eu, que nunca gostei de chá, me vi tomando três copos todo o dia, ainda mais com o gosto ruim da tintura de algodoeiro, por uns três meses direto. (Não vou nem falar do chá de camomila que tomei também nos primeiros meses para ver se aliviava as cólicas do pequeno)
Sei que há mães que acabam dando fórmula por escolha ou por falta de escolha também (por algum problema que tiveram na amamentação) e respeito a decisão de cada uma, mas eu realmente quis manter a oferta de leite materno exclusivo – como é até hoje. E, por isso, eu me empenhei tanto nesse processo. Fiz cansada, mas fiz com muito amor, pensando no melhor para o meu filho – como tudo que guia nossas decisões de mães. E fiquei bem feliz de ter conseguido!
Por isso, as dicas que eu dou para quem tiver que/quiser ordenhar são as seguintes:
Use uma bomba elétrica. Como já disse num outro post, esse foi um acessório muito útil, pois é muito mais rápido de ordenhar. Se você não puder comprar, porque realmente não é muito barato aqui no Brasil, procure alguma empresa que alugue ou alguém que te empreste.
Comece com antecedência. Não é na primeira ordenha que você vai conseguir tirar um copo de leite. O corpo vai acostumando aos poucos e aumentando a produção. Por isso, comece a usar a bomba para estimular a produção algumas semanas antes de quando você precisará ter o leite estocado.
Beba muita água. Com a amamentação, a gente naturalmente já começa a beber mais água, porque dá muita sede. Na época em que além de amamentar eu ainda ordenhava, eu bebia de 4 a 6 litros de água/chá por dia. Quando mais líquido você beber, maior também a sua produção de leite.
Boa opção. Ordenhar o seu leite pode ser uma boa alternativa para quem, assim como eu, quer manter o aleitamento materno exclusivo mesmo com os pequenos já indo à escola. Mas conheço mães que ordenhavam leite para descansar ou poder ficar mais tempo fora, já que deixavam o leite refrigerado e outra pessoa podia dar ao bebê, por exemplo, de madrugada ou em algum momento em que a mãe precise sair.
Cuidado com o armazenamento. A indicação é que o leite seja guardado em recipientes próprios para isso e que fique na geladeira por até 12h e, no freezer, por até 15 dias. Eu usei potes de plástico, vidro e embalagens plásticas próprias e escrevia a data e a hora da ordenha para ir descongelando pelo mais antigos primeiro. Veja aqui uma cartilha do Ministério da Saúde que orienta sobre como tirar, estocar e aquecer o leite materno.
Força. Pode não ser fácil, você pode ficar bem cansada, então persista no processo se essa realmente for a sua vontade. Porém, vá até o seu limite. Tenho uma amiga – da qual me orgulho muito – que desde que sua bebê nasceu, ela usa bomba a cada duas horas, mesmo de madrugada, para tirar leite e conseguir dar a maior quantidade de leite materno para a pequena (complementando a fórmula – necessária em seu caso). Ela está sendo uma guerreira para poder oferecer leite materno o máximo de tempo e na maior quantidade que puder. Mas eu digo pra ela ficar tranquila também e ir até onde der – porque não adianta chegar a um ponto em que o seu peito está todo machucado de tanto usar a bomba ou em que você está tão exausta, que nem energia tem para cuidar do bebê. Cada uma deve estabelecer o seu limite e ir até onde conseguir. E, caso não consiga, não é o fim do mundo. Converse com o seu pediatra para ver a melhor opção para o seu bebê. No final, o que importa mesmo é o bebê saudável.
—
Observação 1: A sucção da bomba não é tão forte como a que o bebê faz enquanto mama e por isso pode ser difícil tirar leite. As bombas elétricas facilitam, pois possuem velocidades de sucção, mas cuidado para não machucar o bico do seio. Se precisar, procure a ajuda de um especialista para isso.
Observação 2: Em janeiro, eu também tinha que tirar mais leite, pois eu usava uma porção por dia para tentar ensinar o Gabriel a tomar usando o copo. Como contei no outro post, ele não aceitou por um tempo e o leite ia todo fora. Pensa na dó de descartar o leite no ralo, após passar tanto trabalho para tirar. Mas, fez parte do processo.
Observação 3: Quer um estímulo? Leia aqui o relato da Fernanda, da fanpage Dose Dupla, que não só amamentou, mas estocou leite para suas filhas gêmeas. É aquele tal negócio: se é difícil com um, imagine com dois?! Ela conseguiu e sua experiência pode te inspirar a conseguir também. Operação Mama Jato, como ela lindamente apelidou!
Observação 4: Tamanho do peito não tem nada a ver com a quantidade produzida. Já ouvi que com o tamanho do meu peito, eu não conseguiria tirar leite suficiente para estocar pro meu filho. Como li num post do Macetes de Mãe, “peito não é estoque, é fábrica”. Acredite que você pode e persista!
*A gente usa o termo papinhas salgadas, mas elas são feitas sem sal como é a recomendação até um ano de idade da criança.
0 Comments
Trackbacks/Pingbacks