Hoje a nossa coluna Visita de Mãe traz o relato de parto do Mateus. Nossa mamãe convidada, a Renata, teve uma gestação mais longa. Ao invés dos 9 meses, foram exatos 3 anos e 18 dias, como ela nos conta logo mais. É uma linda e emocionante história de nascimento de uma família que transborda amor. Rê, obrigada por compartilhar a tua gravidez e o teu parto com a gente. Quanta honra!

O grande presente | Por Renata Andrada Ferla

Ouvindo a experiência de várias amigas sobre suas gestações e nascimentos de seus bebês, senti a vontade de registrar este momento tão especial de minha vida, que foi bastante diferente da grande maioria das mães!

Posso começar dizendo que a nossa gestação (minha e do Guilherme, meu marido) foi bem mais longa do que as gestações “normais”. Nosso filho não foi gerado no meu ventre, mas em nossos dois corações!

E a parte inicial foi a mais difícil… Assim como as mães normalmente sentem enjôo nos primeiros meses, posso dizer que nosso “enjôo” foi a difícil tarefa de preencher a ficha com o perfil da criança desejada. Em um filho biológico, não podemos escolher suas características, mas no processo de adoção é necessário preencher vários dados da criança pretendida, como idade, sexo, cor, se aceita doenças (tratáveis ou não)… E isso nos deixou bastante angustiados naquele momento, pois queríamos o filho que Deus nos enviasse, não estávamos escolhendo um bem material. Mas este passo era necessário.

Depois desse passo, ficamos mais leves e tranquilos, e realmente com a sensação de uma gravidez. Estávamos grávidos e despreocupados, pois sabíamos que seria uma longa gestação!

Não pudemos acompanhar seu crescimento intrauterino, mas com certeza nossos “ultrassons” foram nossas orações! Tínhamos a certeza que Deus estava preparando com muito amor o filho que Ele nos daria pra cuidar.

Em cada dia de espera, amadurecemos nossa decisão e nos preparamos para o momento de sua chegada. Foi uma gestação de exatos 3 anos e 18 dias!

Uma vida que trouxe ainda mais vida. | Crédito: Arquivo pessoal

O tão esperado “nascimento” aconteceu dia 24/10/2013! Um “simples” telefonema e uma mudança para sempre em nossas vidas! Foi um misto de notícia de gravidez com a alegria do seu nascimento!

Mas, diferentemente do nascimento no parto, quando a criança sai da barriga diretamente para o colo da mãe, tivemos que esperar mais um dia para conhecer nosso filho. Foi, com certeza, a noite mais longa de nossas vidas até hoje.

Enfim, na manhã seguinte, fomos até a Casalar onde ele estava acolhido, para conhecer nosso “Presente”, que estava, então, com 1 ano e 1 mês!

[Aqui vou abrir um parênteses, para falar do seu nome! Desde a entrada no processo de adoção, não pensamos em nomes. Não sabíamos se seria menino ou menina, qual idade teria, e nome. Mas desde o momento do anúncio de sua chegada um único nome me veio em mente: Mateus! Eu pensava nele, ainda sem conhece-lo, e o nome Mateus me vinha na cabeça. Minha irmã me disse que era o Espírito Santo soprando em meu ouvido! E tenho certeza que era mesmo! Como este nome não me saía da cabeça, resolvi procurar seu significado. E sabem o que significa Mateus? PRESENTE DE DEUS. Não tínhamos mais nenhuma dúvida. Mateus era seu nome, e este era o nosso grande presente!]

Voltando ao momento de conhecê-lo, após a longa noite, enfim nossos olhares se cruzaram pela primeira vez! Nós estávamos ansiosos, e ele um pouco receoso. Ficamos alguns minutos a sós e eu já consegui dar um colinho. Com toda a ansiedade, e como pais de primeira viagem (rsrsr), não levamos nenhum brinquedo pra ele… O que o Gui tinha no bolso era um terço, e este foi seu primeiro “brinquedo”! A cada momento que passava, sentíamos que ele era um pouco mais “nosso”. Brincamos um pouco e já era hora do almoço. Pude sentir mais essa alegria: dar almoço ao Mateus pela primeira vez. E pra minha alegria maior ainda, logo após o almoço, ele se aconchegou no meu colo e dormiu. Claro que chorei! Naqueles poucos momentos, ele já sentiu em nós a confiança para dormir tranquilo, e com certeza sentiu todo o amor que tínhamos pra lhe dar! O difícil foi sair de lá e deixá-lo naquele dia… Mas tínhamos alguns procedimentos necessários para poder levá-lo, definitivamente pra casa.

A família e os amigos prepararam um chá de fraldas express para a chegada do Mateus. | Crédito: Arquivo pessoal

Precisávamos também preparar a casa e tudo o mais para recebê-lo! Não tínhamos nada além de amor e carinho para acolhê-lo! E este foi mais um momento especial em nossas vidas. O apoio que recebemos da família e dos amigos, que estavam acompanhando todo o processo com a gente, foi indescritível. A família se mobilizou para um chá de fraldas “express”, e em um fim de semana fizemos o que normalmente se faz em 9 meses!

Foram necessários 5 longos dias para que, enfim, o Mateus pudesse conhecer seu novo lar! (Durante este dias de espera, pudemos visitá-lo, e a cada visita nosso amor crescia, e a vontade de levá-lo pra casa aumentava).

Desde o momento que entrou em nosso lar, o Mateus se sentiu literalmente “em casa”! Explorou cada canto, e tomou posse daquele lugar, que sempre foi dele, e estava a sua espera!

Não acompanhamos seus primeiros momentos, mas tivemos muitos momentos marcantes desde o momento de sua chegada: vimos seus primeiros passos (para nossa alegria, ele começou a andar com 1 ano e 3 meses) e ouvimos suas primeiras palavras (ele falou papai antes de falar mamãe… rsrsrs).

Com certeza temos muitos motivos para agradecer a Deus por esta vida, que nos trouxe ainda mais vida!

Uma das frases que mais gosto (não sei o autor), mas que se encaixa perfeitamente a nós é a seguinte:

“SE NÃO NASCEU DE NÓS, CERTAMENTE NASCEU PRA NÓS”!

E a partir daqui, nossa vida de pai e mãe é a mesma de todos os pais e mães. Depois que nossos filhos “nascem”, somos todos pais. Com acertos e erros, alegrias e tristezas, medos, incertezas, mas com certeza muito, mas muito Amor! E é amor incondicional. Não é caridade!

“Caridade é algo pontual, é quando você não está preocupado em obter nada em troca, você ajuda e ponto, é um comportamento altruísta, onde você sentirá um conforto interno inexplicável por ter sido útil na vida de alguém que talvez você nunca mais encontre.

Adotar é para sempre. As pessoas adotam para satisfazer o seu desejo de serem pai e mãe, de terem um filho, de aprenderem, ensinarem e passarem por todas as alegrias e dificuldades de uma parentalidade como na biológica, não há diferença, com exceção da existência de uma história pregressa do filho e todas as particularidades que esta possa representar e só. O amor é igual, o
apego, a necessidade de proteger e ser protegido, é tudo igual.

Não duvide, adotar não é caridade é amor incondicional, um amor que poucos experimentam.” (Cintia Liana)

E quando o Mateus puder ler este texto, quero que sinta o quanto foi esperado e amado desde sempre, mesmo antes de o conhecermos!

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