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Consulta Materna: Atividade física e gestação

Postado em 11/08/2016 por em Gravidez, Saúde | Comente!

Ficamos muito felizes de receber mais uma profissional na nossa coluna Consulta Materna. A convidada da vez é a médica ginecologista e obstetra Geane Garlet. Ela atua em Florianópolis em pré-natal de baixo e alto-risco. Mas se isso já não fosse o suficiente para mantê-la bem ocupada, ela encontrou tempo para virar uma atleta amadora, sendo praticante de corrida há muito tempo e mais recentemente também virou maratonista de asfalto e montanha. Não foi à toa que pedimos para que ela escrevesse um texto sobre este tema e, em meio a sua agenda de médica e esportista, ela felizmente achou um tempinho para compartilhar conosco o seu conhecimento. Temos certeza de que será muito esclarecedor e útil. Boa leitura!

Atividade física e gestação | Por Geane Garlet

As atividades físicas aeróbicas e de força muscular são essenciais na prevenção e tratamento de doenças em todos os estágios da vida, inclusive na gestação. Como a gravidez é um período em que a mulher pode se encontrar mais motivada a assumir medidas de um estilo de vida saudável por estar influenciando também a saúde do bebê, é um bom momento para se iniciar uma reeducação alimentar e uma atividade física regular. Deve-se apenas reestruturar a rotina de exercícios para se adaptar às modificações anatômicas e fisiológicas e, assim, evitar eventos adversos ao bebê.

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Crédito da foto: Doce Dieta

É fundamental haver a orientação de um educador físico para a gestante a fim de identificar a postura e a intensidade adequadas, bem como a supervisão e orientação do médico obstetra, para que se obtenha o benefício do exercício sem agregar riscos à mãe e ao bebê.

-> Benefícios

Os benefícios da atividade física regular na gravidez incluem a melhora da resistência da circulação sanguínea e pulmonar, força, resistência muscular e flexibilidade, melhora na agilidade, coordenação motora e equilíbrio, controle do ganho de peso da mãe, redução da dor lombar e dor pélvica, prevenção de incontinência urinária (exercícios do assoalho pélvico) e controle do peso fetal.

Alguns exercícios, como a Yoga, aumentam a força muscular e a aptidão física e reduzem o estresse. Os exercícios na água reduzem o inchaço, o que faz uma redução na pressão articular (aliviando dores), reduzem a temperatura corporal e têm baixo risco de perda de equilíbrio ou quedas.

Além disso, alguns estudos mostram que a atividade física regular também pode reduzir o risco de desenvolvimento de diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, a duração da primeira fase do trabalho de parto e a necessidade de cesárea.

-> O que praticar

Antes de qualquer coisa, para iniciar ou manter a atividade física na gestação, deve ser feita uma avaliação médica obstétrica completa para identificar riscos de danos maternos ou fetais.

Crédito da foto: Doce Dieta

Crédito da foto: Doce Dieta

Os estudos sugerem a realização de atividades com uma duração de 30 minutos, 5 a 7 dias por semana, iniciando com tempos menores e progressivos nas sedentárias. Passando dos 45 minutos de atividade física, deve-se prestar muita atenção no controle da temperatura ambiental/corporal e na hidratação.

A intensidade da atividade está ligada ao nível de habilidade física prévia. Para as sedentárias, iniciar em atividades de baixa a moderada intensidade (caminhada, natação, ciclismo em bicicleta fixa) com aumento gradual na intensidade. Mulheres com prática em atividade física regular e gestação de baixo risco estão aptas a exercícios de alta intensidade (corrida e outros aeróbios).

No caso da prática de exercícios de flexibilidade, estes devem ser individualizados para reduzir o risco de lesão articular. Exercícios com carga baixa e múltiplas repetições são seguros e efetivos.

-> Riscos

Os principais riscos da atividade física na gestação estão relacionados a traumas abdominais e ao aumento da temperatura corporal da mãe (nas primeiras 4 a 6 semanas de gravidez). Os traumas abdominais podem ocasionar o descolamento da placenta e assim levar ao óbito do bebê. O aumento da temperatura corporal no início da gravidez pode aumentar o risco de malformações do tubo neural (cérebro, medula espinhal e coluna do bebê).

Para minimizar estes riscos deve-se evitar atividades físicas que exponham a gestante a traumas (risco de quedas, por exemplo bicicleta, lutas, patins etc.) e ter um bom controle das condições de temperatura ambiental à que se expõem na pratica da atividade física (por exemplo, ar condicionado no verão).

Fisiologicamente, o que acontece na atividade física na gestação é uma redução transitória do fluxo sanguíneo através da placenta, o que leva ao aumento de cerca de 10 a 30 batimentos cardíacos fetais por minuto (independentemente da idade gestacional e da intensidade do exercício físico), e que retornam ao normal cerca de 20 minutos após o término da mesma. Bebês de gestações normais (baixo risco) compensam qualquer mudança transitória na frequência cardíaca, mesmo em mulheres previamente sedentárias.

Os estudos mostram ainda que a atividade física não parece aumentar o risco de aborto ou parto prematuro em gestações de baixo risco.

-> O que evitar

• Atividades físicas que requerem movimentos de pulo ou rápidas mudanças de direção podem estressar as articulações e aumentam o risco de lesão articular (lutas, cross fit, corridas off road);
• Exercícios em posição supina (deitadas de barriga para cima), principalmente no terceiro trimestre, pois esta posição predispõe a queda na pressão arterial, podendo causar desmaios/tonturas e até redução no fluxo sanguíneo para a placenta;
• Manobra de Valsava durante o exercício (fechamento da glote com aumento da pressão abdominal) pode aumentar a pressão arterial e diminuir fluxo sanguíneo planetário e devem ser evitados/minimizados (isométricos extenuantes e prolongados, por exemplo);
• Exercícios prolongados e intensos podem levar a hipertermia (aumento da temperatura corporal) e desidratação, devendo ser evitados por aumento nos riscos de malformações (no primeiro trimestre) e trabalho de parto prematuro;
• Mergulhos com cilindro de oxigênio devem ser evitados, pois aumentam o risco de doença descompressiva fetal, com risco de lesões corporais no feto por formação de bolhas;
• Gestantes viajantes para áreas de altitude devem evitar se exercitar nos primeiros 3 a 4 dias devido à baixa captação de oxigênio na altitude (pelo ar mais rarefeito).

-> Pós-parto

No pós-parto, as atividades físicas podem ser retomadas em alguns dias e reduzem o risco de depressão pós-parto (cerca de 15 dias para parto normal e 30 dias para cesárea). O leite pode ter aumento de ácido lático pós atividade física, o que muda seu gosto, podendo haver rejeição pelo bebê. A desidratação pela atividade física também pode diminuir a produção do leite.

Para evitar estes inconvenientes, o segredo é manter sempre uma boa hidratação antes e depois da atividade física e praticar atividade física imediatamente após a mamada. Assim, durante a produção do leite para a próxima mamada haverá tempo hábil de recomposição da constituição habitual do leite.

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